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TAP: Asas indomáveis de 1945 a 2012

Em quase sete décadas, a TAP sobrevoou revoluções, sofreu com o preço do petróleo, ultrapassou tempos difíceis na aviação e viu goradas duas privatizações. Hoje vive com escassez de capital mas continua a servir de porta entre o país e o mundo. Símbolo nacional, pelo menos quatro portugueses nasceram a bordo dos seus aviões.
«Há passageiros que entram no avião a perguntar quanto está ou quanto ficou o jogo do Benfica». O relato é de Carolina Ceia, 25 anos, assistente de bordo na TAP há dois. Na sua opinião, episódios destes espelham a relação que os portugueses têm com a companhia. Se Eusébio é um símbolo nacional – em 2004, um A319 foi baptizado com o seu nome para o homenagear – a TAP também joga neste campeonato.
«Tornou-se uma companhia de bandeira, que representava Portugal em todo o lado. Isso reflectia-se até na alimentação. Chegámos a servir frango na púcara», relata o director de pessoal de cabine, Georges Jeunehomme. Com 42 anos de casa, acredita que a paixão do país pela empresa se explica «pelo seu espírito português». E não esquece a reacção no regresso de uma viagem ao Japão, com Mário Soares, quando anunciou que havia pastéis de nata a bordo. «Ninguém estava à espera. Foi uma festa naquele avião».
Criados oficialmente a 14 de Março de 1945 por Humberto Delgado, à data director do Secretariado da Aeronáutica Civil, a pedido de Salazar, os então Transportes Aéreos Portugueses – os TAPS, antecessores da actual TAP Portugal – desde logo levantaram voo como uma extensão do território. Serviam de ligação às colónias. Em alternativa ao barco, era nos seus aviões que os emigrantes e os luso-descendentes na Venezuela, Brasil e África vinham ver a família. Voavam com os empresários portugueses que davam os primeiros passos para internacionalizar negócios. E foi a TAP que, ao iniciar as rotas para a Madeira, em 1964, e Açores, em 71, ajudou a furar a insularidade. O hub de Lisboa conecta a Europa, a América Latina e África.
«Entrar num avião da TAP é como entrar num bocadinho de Portugal. Há uma sensação de regresso a casa porque as pessoas falam a nossa língua, há jornais e revistas em português», confidencia o piloto Pedro Alceu, desde Abril na companhia e também ex-emigrante.
Voando hoje para 76 destinos, a TAP deu novos mundos aos portugueses. Mas também leva o país na bagagem. Talvez seja por isso que, na comunicação social, o tema TAP cativa o grande público, como se viu no recente processo de privatização, entretanto suspenso.
Marca valiosa e fundamental para o turismo, é montra da cultura e dos produtos nacionais. Na década de 60, já a loiça utilizada, da Vista Alegre, era decorada com imagens de danças típicas, do vira do Minho aos pauliteiros de Miranda. E no menu servido a bordo não faltam queijos, pão e vinhos lusos. No ano passado, seis dos melhores chefs nacionais foram convidados a criar pratos tradicionais, para servir na classe executiva. Bacalhau, vitela e polvo foram os primeiros a embarcar.
Em 2005, a nova imagem então anunciada trouxe uma dose reforçada de portugalidade nas fardas, no logótipo e até no nome da companhia, que passou a TAP Portugal. Fernando Pessoa, a pintora Vieira da Silva e o Papa João XXI ‘voam’ sempre na companhia, que tem por hábito baptizar os aviões com nomes de grandes personalidades nacionais.
Em 2011, a TAP gerou um recorde de dois mil milhões de euros para o país, mais 15,7% do que em 2010. Assume-se como a maior exportadora portuguesa. E até aqui chegar, protagonizou uma viagem com várias escalas e muitas mudanças. Sobretudo na forma de viajar, tanto para os passageiros como para as tripulações.