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Portugal – Drone voa comandado apenas por ondas cerebrais

«Uma touca, um drone – e alguns computadores pelo meio. Na pista, nas imediações de Vila Franca de Xira e com a Lezíria por cenário, não faltou a expectativa típica das estreias. Conseguiriam os mentores do projeto Brainflight demonstrar que é possível comandar um drone apenas e só com o pensamento de um ser humano? Não terá sido necessário esperar muito até à prova final: como previsto, o drone da Tekever rasgou os céus e sobrevoou, durante a manhã de ontem, os hangares do aeródromo da cidade ribatejana, comandado pelas ondas cerebrais de um técnico da Tekever sentado à secretária, em terra, a olhar para um ecrã de computador como se estivesse dentro do pequeno cockpit do drone que se encontra a várias dezenas de metros de distância.
No projeto Brainflight, não é só a Tekever que tem direito a parangonas de jornal: a iniciativa financiada pela Comissão Europeia contou ainda com a participação de investigadores da Fundação Champalimaud, a Eagle Science, da Holanda, e a Universidade Técnica de Munique, da Alemanha.
Como é que se consegue controlar um drone com o pensamento?: EEG, a sigla de eletroencefalograma, é a resposta mais concisa. Uma resposta mais descritiva remeterá obrigatoriamente para a touca e para os respetivos sensores colocados em pontos precisos, que facilitam a captação de ondas cerebrais que, depois, são convertidas em comandos de drone por algoritmos que correm num computador.
Ricardo Mendes, diretor operacional da Tekever, recorda que a demonstração pública, efetuada ontem num aeródromo, marca uma nova etapa neste projeto: «É um projeto com grandes riscos e também com grandes recompensas, que pode ter um impacto a longo prazo, mas que já começou a produzir os primeiros resultados e vai precisar de mais tecnologia para chegar a maturidade. Acreditamos que o Brainflight representa o início de uma enorme mudança na aviação, que poderá dar novas capacidades aos pilotos e reduzir os riscos das missões, e queremos disponibilizar estas vantagens para o mercado com produtos inovadores».
Antes do teste Vila Franca, o projeto Brainflight contemplou testes com simuladores para veículos tripulados e não tripulados. Em ambos os casos, os testes de simulador foram bem sucedidos, mas não se prevê que venham a ser feitos voos em “ambiente real” nos tempos mais próximos.
Ricardo Mendes recorda que ainda há pelo menos dois tipos de desafios a superar: «Hoje, não é possível testar esta tecnologia em veículos aéreos tripulados por questões de segurança e por isso apenas podemos fazê-lo em ambiente de simulação. Esta é uma solução inicial. Ainda não é um produto, mas é esse caminho que queremos fazer. Se vai demorar dois anos ou mais até termos um produto, é algo que não se sabe ainda».
Ricardo Mendes acredita que a tecnologia usada no projeto Brainflight acabará por entrar, um dia, nos cockpits dos aviões tripulados, mas também lembra que, antes desse momento, será necessário produzir legislação de âmbito internacional que regule o uso dos sistemas de “leitura do pensamento” no apoio à pilotagem.»

Hugo Séneca, artigo publicado na página de internet “Exame
(24 Fevereiro 2015)

 

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